quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Vento Minuano

"Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram!
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
para que fosses nosso, ó mar!"
(Fernando Pessoa)



José Luongo da Silveira

Minuano, que invade essas coxilhas,            
quanto do teu assobio magoado
são ecos distantes de um passado,
de patas de cavalos e tilintar de lanças,
ou brados de guerreiros que tombaram
e errantes ainda galopam na voz do vento,
enfeitiçando assim essas paragens?

Onde a Província de São Pedro, encontra
o solo castelhano, bem no sul do sul,
o vento teima em cavalgar a noite inteira,
junto a pampa dos heróis de tempos idos
as mesmas vozes se mesclam ao som do vento,
miragens que assombram o quero-quero
e denunciam o viojor errante com seu grito.

Hirtas ermidas plantadas nas estradas,
cruzes perdidas em meio ao capinzal,
são vestígios obscurecidos pelo tempo
de tantas esfregas, querras e revoluções.
Agora, em doce calma adormecem em terra nua
maragatos e chimangos descansam em solo amigo
e o minuano, esse teimoso, quer trazer de volta
o vozerio encarniçado das peleias.

Minuano, quanto dos teus gemidos são o choro
abafado das mulheres, dos pais e filhos
de quem partiu para a guerra e não voltou?
Quantos homens e mulheres rezaram
mirando ao longe em cansativa espera?
Seus olhos se perderam nas distâncias
e só tu continuas galopando pampa afora
varrendo o pranto dos que em vão confiaram,
viajando sempre em direção ao nunca mais...

3 comentários:

  1. Vento Minuano. Que poesia linda que fluiu da inspiração do grande poeta Luongo. Não existe ninguém no mundo que seja verdadeiramente fiel aos seus sentimentos do que o poeta. A poesia é a grafia que revela o sentimento na sua plenitude. Parabens, meu irmão e amigo, pela tua contribuição literária.

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